Rasgam-se as nuvens para surgir um céu azul, carregado de sol. Apetece-nos erguer os braços e agradecer, rodopiando entusiasticamente com o rosto coberto de luz e calor. Os óculos de sol sairam da gaveta, as calças desapareceram, numa América a deixar de se arrepiar nos seus 15 graus com cheiro a Verão. Será a ansiedade que coloca a pele branca sob os olhares? O cansaço da espera? 

 

Há um saxofone e um trompete. Corpos que se movimentam lentamente. Não, não é Verão. Uma sósia do Ray Charles ao piano. Os óculos escuros, um sorriso aberto vindo de dentro e os dedos delicadamente sobre as teclas. É Inverno no calendário. É Verão na rua. Os corpos dos músicos de costas para uma imensa janela num terceiro piso noite dentro, de onde se vislumbram prėdios, luzes e corpos que se movimentam num bar do outro lado da rua. Saberão eles que o Jazz se agita no ar no prédio em frente? As notas carregadas a atirar-se contra nós, um baterista que se esqueceu ou que não deseja saber que estamos ali. Compreendo. Aquilo não é uma sala de espectáculos. Não é um bar. É a nossa sala, as nossas salas, ao longo dos três pisos, o chão de madeira, a chama a crepitar na lareira, os sofás espalhados por ali, as luzes quentes, inebriantes e quase inexistentes embriagando-nos do conforto que é casa. Sentamo-nos, fechamos os olhos e imaginamos ter colocado um cd de jazz a tocar. Não, não é um concerto. É a nossa sala emoldurada de jazz que nos leva a viajar ao passado. É o Ray Charles ao piano, notas aperfeiçoadas a roçar o improviso.

 

The Donvonte McCoy Quintet no Eighteenth Street Lounge e eis que encontramos o melhor bar da cidade. Exagerarei por apelidá-lo de "o