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2014

 

Tic tac. Um tic tac constante, sonoro, numa sala escura, com imagens que enchem as paredes, os ponteiros do relógio em constante movimento, o tempo que nao pára, pessoas que entram e saem, quiçá um minuto numa cadeira para descansar as pernas, deixando-se embeber pela instalação de William Kentridge. Chamou-lhe ‘The Refusal of Time’. Lá fora, fora do Metropolitan Museum, corre o tempo, correm as pessoas, correm os carros. Há um homem que olha o Central Park, os cotovelos sobre o muro, os olhos perdidos no imenso verde, como que fugindo ao tempo apressado das avenidas de Manhattan. O tempo corre mais devagar quando os pés tocam a relva e os olhos se deixam embeber pelos pic nics no relvado, o treino de baseball, pessoas que correm no campo de basketball nessa luz transmitida pelo imenso lago com os prédios e o caos no horizonte do cenário. Tic tac. A cidade é demasiado grande para a palpilhar a pé, exige metro e táxis, num vai e vem por avenidas longas desenhadas por arranha-céus.

 

Não foi imediato. Não foi uma dessas paixões que nos esmagam o peito assim que nos deparamos com esse alguém. Precisei de horas, várias horas para a assimilar. Assim que a avistei pareceu-me um homem desleixado com uma tshirt de uma empresa qualquer, as botas impecavelmente limpas e reluzentes totalmente desajustadas no outfit. Talvez fossem as várias horas dentro do autocarro que me desgastaram a emoção, mas ali ao longe, olhando-a desde um porto qualquer desarrumado, pareceu-me simplesmente confusa. Desculpa não ter o corpo imediatamente preparado para o caos. Assim que os meus pés calcaram o asfalto nova iorquino eram apenas carros e buzinas, edificios a esmagarem-nos o tamanho, luzes a ofuscarem-nos, cheiros que se misturam intensamente e nos entram narinas dentro para nunca mais as abandonarem. Desculpa-me Nova Iorque por não me ter deslumbrado imediatamente como todos aqueles que finalmente te sentem a pele. O homem terá pensado que a imponência de uma cidade se mede pelo tamanho da sua construção. E pensou bem. Nova Iorque obriga-nos a erguer e baixar a cabeça constantemente nesse olhar em direção ao topo dos edifícios que parecem tocar o céu que coabitam com edifícios históricos carregados de detalhes em fachadas históricas, janelas antigas e largas, publicidade em todos os cantos. Um casamento entre o moderno e o antigo, de mãos dadas vida fora.

 

Não traçamos os planos diários, movendo-nos nesse “Go with the flow” que uma nova iorquina nos recomendava. Um homem descontraído, de sorriso aberto, torna a conversa fácil no metro, Portugal a sair-nos da boca constantemente, companhia até ao destino, nesse mostrar para além de informar. Come-se Nova Iorque rapidamente nesse frenesim enérgico e constante de vida stressante que polvilha as ruas, homens e mulheres sem tempo para parar, a comida que enche a boca enquanto se corre para o trabalho entre os edifícios que escondem o sol e vento que uiva entre as avenidas.

 

Foi o Central Park. Foi exactamente quando entrei no Central Park que me apaixonei. Nova Iorque era agora uma homem inteligente, desleixadamente perfeito, a oferecer-me a mão. 

NYC: Deliciously dirty

 

 

Dolar americano

Ingles

EUA

O ar tão mais leve, as árvores de flores rosas a esvoaçar de olhos postos no imenso lago e nos edifícios tão bem delineados no horizonte dessa Manhattam tão impecavelemente situada no nosso olhar. É possível visitar Nova Iorque e passar todas as horas do dia dentro do Central Park. Há lagos e barcos, restaurantes, actividades desportivas e culturais, sonhos que sonham de olhos abertos virados para o céu. Invejei as pessoas que vivem na fifth avenue mas prefiro o espirito livre das gentes de Harlem, sem botox nem plásticas, as vozes que se fazem ouvir, o hip hop e a salsa a escapar das lojas para a rua. Poderemos misturá-los?

 

 

                                    (continua)

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