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AMESTERDÃO

Minha querida Amesterdão

 

Temo que estas palavras te pareçam gastas. Tenho receio que tenhas ouvido isto várias vezes, mas a verdade é que quando o comboio entrou nos teus trilhos em direcção à Central Station, soube que te cravarias no meu corpo como uma segunda pele. Tijolo a encher-nos a vista num degradê de castanhos, cortados por compridas janelas de interior orgulhosamente exposto, em edifícios tombados pelo tempo como se descansassem o rosto no ombro do vizinho a apreciar canais onde pequenos barcos se transformaram em casas. Descansamos a máquina fotográfica para deixar primeiro os olhos absorverem, engolirem as pequenas pontes em meio círculo recheadas de bicicletas – sabias que existem cerca de 900 mil bicicletas em Amesterdão? -, imaginar tulipas coloridas onde agora repousam canteiros vazios, salivar a cada barraca de waffles e churros rodeadas de Nutela. Será possível resistir ao encanto de uma cidade vestida de canais serenos e edifícios que parecem dançar? Que importa a resposta? A verdade é que eu não te quero resistir Amesterdão. Bailemos juntas, então.

 

É Inverno e o céu cobriu-se de cinza prata, apenas olhos e corpos cobertos a inundar as ruas para as últimas horas do ano. Ainda trazemos na boca o sabor a chocolate e erva concentrados nos famosos space cakes da quente, pequena e fumada Green House e os churros a escaldar trincados na Nieuwendjik entre multidão, luzes de montras e iluminação de Natal a entrar-nos pelos olhos. Rodas, selins, campainhas em todos os recantos, presas ou soltas, bicicletas repousam em paredes, nessa espera das 12 badaladas. Ainda há tempo. Antes, os pés calcorreiam as ruas e ruelas do Red Light District onde a curiosidade se desvanece para, rapidamente, dar lugar a uma espécie de vergonha. Voyeurs de corpos petrificados frente a largas janelas onde um verdadeiro cenário foi montado. Uma cozinha, ali uma sala, numa outra um quarto iluminado a vermelho, sempre vermelho paixão, enquanto elas se movem, semi-nuas ao som de uma música que não ouvimos, esticando o dedo indicador em sinal de convite, preços negociados ao ouvido, um sim ou um não demonstrados sem palavras. Continuamos.

Juntamo-nos ao círculo que se formou em torno dos foguetes que alguém, subitamente, lançou para a rua. Há mais fogo de artifício no ar, mais foguetes no chão a alguns metros, barulho de fogo de artifício a rebentar vindo de outra rua, outras ruas. A tradição da cidade assusta mesmo os menos assustadiços, enche o ar de fumo e cheiro a foguete queimado desde que o sol desaparece até que o amanhecer do primeiro dia do ano surge.  Arriscamo-nos a entender os números contados de forma decrescente em Holandês, mergulhadas na imensa multidão que a grande praça Dam alberga, um fogo desenfreado e desorganizado enche o céu e ilumina as esculturas e edifícios históricos, enquanto se soltam rolhas e cintilam copos e garrafas na excitação do novo. Afinal a língua não é uma barreira quando sabemos o que festejamos. Olá 2016.

Am I Amesterdam?

 

O imenso azul deu lugar ao brando branco. A água é agora gelo onde algumas dezenas de pessoas deslizam os patins frente ao gigante Rijkmuseum – considerado um dos melhores museus na Europa -, enquanto outros se arriscam a trepar as altas e famosas letras brancas e vermelhas. Esticam-se os braços para selfies em grupo, arrisca-se um pedido de ajuda aqui e ali, ate que nos apontam para uma pequena ponte situada no centro do lago. Um meio circulo perfeito. Assim que os pés alcançam o centro da ponte e os olhos se elevam, soltam-se “ah’s” da boca, num vislumbre provocado pelo cenário. Não fossem as modernas “I Am Amsterdam” ali caídas e poder-se-iam imaginar as carruagens chegar à porta do museu para os históricos bailes aristocráticos. No sentido oposto o jardim estende-se para além do Museu Van Gogh. Deliciem-se com a paisagem. É dessas de comer e chorar por mais.

 

Uma dança sob canais

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Holanda

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