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Janeiro 2015
Subimos com cautela. Os olhos pregados no chão, a atenção focada na acumulação de água, nas paredes sujas e gastas de desabitadas, ao longo de um longo corredor aberto para as árvores sem portas nem pessoas, coberto pelo musgo e entranhado de humidade, espreitando por cada uma das salas cobertas de lixo e desgaste que caracterizam o esquecido Hotelo Monte Palace. Resta o silêncio e o ruído do vento que se entranha por aberturas onde deveriam repousar portas e janelas. Avançamos placas velhas onde "Cuidado" e "Perigo" foi escrito com tinta laranja e deparamo-nos com um rasgão a atravessar a parede, como varanda sobre o imenso verde. Não evitamos a exaltação dos olhos, o abrir lento da boca para um longo 'aww'. Ei-la. A Lagoa das Sete Cidades, maior a cada passo, como uma caldeira que nos engole de tão pequenos nos sentirmos. Rodamos o pescoço em direcção às árvores que foram aparadas, entre o mar e a lagoa onde o sol começa a permitir avistar as diferentes tonalidades da água em cada um dos lagos. Haverão palavras para os assaltos de beleza da natureza? 
 
Tenho a impressão que São Miguel é um poema de Alberto Caeiro:
 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar...”
 
 
 
 

Um mergulho na

     imensa lagoa

                                                     

 

É natureza em estado puro, de cores exaltadas, locais quase intocados como se o mundo tivesse estagnado entre as serras, as vacas como pintas no imenso verde em vida sem pressa, a lagoa das empadadas que se descobre para lá das longas árvores e terra vermelha onde falham os turistas, como se fosse um pequeno segredo da ilha. Saltamos de novo para o carro antes que os portoões encerrassem a passagem e rumamos a outra maravilha com o olhar preso no imenso oceano que rebenta contra o verde. O meu coração ainda haverá de acelerar quando se encontrar com aquela imagem envolvida com suficiente nevoeiro para que o misticismo não esmoreça e os corpos pareçam perdidos entre as árvores, enquanto alguns raios de luz descobrem o oceano. Obrigada S. Pedro por me fazeres apaixonar pela Lagoa do Fogo. 

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Portugal

Cozem-se as redes de pesca inundados pelo cheiro a peixe. O ar de Rabo de Peixe é feito de escamas, o mar entrou pelas casas e deixou-se ficar, como se a vila fosse habitação das ondas. Abrem-se as portas do nosso carro e abrem-se as bocas dos homens, sentados no paradão com as redes espalhadas pelo passeio, saem-lhes piropos como quem diz olá, sem que as mãos parem de trabalhar. As casas brancas listadas de negro, arrumadas como se alguém as tivesse alinhado desde o céu, estendem-se em pequenas parcelas de encontro ao verde explosivo. 
 
São Miguel. Tivesse eu tempo para te saborear lentamente as encostas, como os animais que se espraiam ao longo dos montes como se a erva fosse colchão.
 
(em construcao)

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